terça-feira, 5 de novembro de 2013

Walter, o jogador de futebol


Walter: atacante muito acima do peso para um jogador profissional é um dos melhores do Brasileirão.
Foto: Davi Ribeiro/Foto Arena

Oi, pessoal.

Há muito tempo eu estou para escrever sobre o impressionante Walter, jogador esmeraldino, para falar sobre a riqueza do seu talento e da sua superação. 


Walter é mais conhecido como "o gordinho", no entanto, foi a escassez e não o excesso que fez dele um destruidor de paradigmas, um bem enorme ao futebol brasileiro, se aproveitarmos. 


A história é comum no meio: entre a casa e o campo de futebol, uma vida de sacrifício e pobreza. Ultimamente, além disso, num ambiente de forte violência. Não foi diferente com Walter, que ao sete anos, perdeu um irmão, assassinado, com cinco tiros, dentro do ônibus:


" -Vi muita coisa, muita coisa mesmo. Vi roubo, morte na minha frente. Vi tiroteio, corria no meio do tiroteio. Estava parado num lugar, começava a ouvir tiro e tinha que correr. Minha mãe saía atrás de mim louca por causa do tiroteio. Já invadi muito a casa dos outros. Nem conhecia. Entrava na primeira casa que via," afirmou o jogador em entrevista ao Globoesporte.com


Sua mãe chama-se Edith. Por vezes ela deixava de comprar comida para que Walter tivesse o dinheiro da passagem e pudesse ir treinar na escolinha de futebol. O filho grato leva seu nome tatuado no braço direito.


O rapaz ia à Ilha do Retiro para assistir aos jogos do seu clube de coração, o Sport, mas nem sempre conseguia entrar "no vácuo", como vi muitos fazerem no Maracanã, e ficava ouvindo o jogo do lado de fora. 


Ressalto essas histórias com o único ensejo de destacar  que é a escassez que molda "o gordinho" Walter, não o excesso. 

O recifense de 24 anos não escolheu a bandidagem porque "não queria aquela vida", e numa luta heróica, venceu a marginalidade, a violência e seu próprio corpo. 

Walter comemora mais um gol: ele é o artilheiro do Goiás na temporada.
Foto: Carlos Costa / Futura Press.


O futebol exige condicionamento físico. E no "futebol moderno brasileiro", um jogador de futebol tem que ser sobretudo um atleta, senão "não aguenta o ritmo do jogo", esbravejam. 

Nos últimos vinte anos, modificamos todas as teorias e práticas na formação do jogador de futebol. Walter, "o gordinho", quebrou todos os paradigmas dos formadores de atletas.


E mais uma vez a escassez moldou seu destino, sua história. 

Porque foi a escassez de qualidade técnica que deu ao "gordinho" pernambucano a chance de jogar. 

Evidentemente que não num clube chamado grande porque estes estão repletos de formadores de atletas, não formadores de jogadores de futebol. 


Foi no São José do Rio Grande do Sul que o menino do Coque, após passar alguns meses no Vitória (BA), pinçado da escolinha do Santa Cruz, ganharia sua primeira chance. Destacou-se. E chegou ao Internacional, onde foi um dos melhores da Copa São Paulo de Juniores, em 2008.


Com o técnico uruguaio Jorge Fossati, Walter teve uma sequência de jogos no Internacional, em 2010. Campeão da Libertadores, o Porto o contratou. O "futebol moderno português" não soube lidar nem compreender o peso do jogador, resolvendo emprestá-lo. 


Sem chances no Cruzeiro, ano passado, assinou com o Goiás, sendo o principal jogador da equipe, ídolo e um dos melhores jogadores do Campeonato Brasileiro de 2013.

Parece irônico, mas Walter é um anti-herói heróico. 


Não somente por suas superações pessoais, incríveis, mas por esfregar na cara dos preparadores físicos e treinadores brasileiros que o condicionamento físico é necessário, mas nunca será o principal. Porque o principal no futebol será sempre a qualidade técnica. E ponto.


Walter não é atleta, é mais que isso: Walter é jogador de futebol.  


Que os WALTERS voltem aos nossos campos que sob a batuta e proteção dos horrorosos técnicos brasileiros e uma entojada imprensa esportiva andam cada vez mais com excesso de atletas que não sabem jogar futebol.



CASO CONTRÁRIO, FUTEBOL SÓ EM ALGUNS TIMES DA EUROPA (sempre foi assim!) E NO PLAYSTATION, com nossos estádios cada vez mais vazios, porque poucos ainda aguentam esse futebol dos atletas, não dos jogadores.


@@@

Abraços, pessoal

Grande beijo.

Fraternalmente,
Crys Bruno.


4 comentários:

  1. Crys, pra mim, esse cara é o melhor jogador do campeonato.
    Como eu gostaria que ele estivesse no Flu, nesse momento.
    Abraço grande procê!
    ST4

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  2. Lindo texto,linda estória!
    Vem pro Flu, mas vem gordinho, porque se resolverem te emagrecer, estragam tudo! rs

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  3. Oi, pessoal. Que bom que gostaram. O futebol tem histórias lindas ainda, não é? rs
    Obrigada pela leitura e apoio de vcs, meus queridos!

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